A COMPOSIÇÃO DO TEXTO TEATRAL

Teatro - A composição do texto dramático

prólogo, cenas, atos, epílogos e rubricas

O texto dramático

É um tipo textual derivado do texto narrativo, tendo como principal característica ser escrito para ser representado. Geralmente não tem narrador e predomina a 2ª pessoa.

Estudaremos os principais elementos que estão presentes em sua composição.

Imagem: Autor desconhecido / disponibilizado por Tsujigiri / domínio público.

Elementos de um texto dramático

Para direcionar a encenação, o texto teatral ou dramático possui elementos muito particulares, tais como:

  • Prólogo
  • Atos
  • Cenas
  • Epílogo
  • Rubricas

Veremos detalhadamente o papel e localização de cada elemento na composição de um texto dramático.

Prólogo

Tradicionalmente surgido na tragédia grega, o prólogo é um texto inicial usado para situar o leitor do que vai encontrar na peça teatral ou trazer uma introdução aos fatos que ocorrem em seu enredo. Geralmente era escrito em verso e anunciava a temática central da peça. 

Ao abrir o pano, entram todos os atores, com exceção do que vai representar Manuel [...] Imediatamente após o toque do clarim, o palhaço anuncia o espetáculo.
Palhaço

Grande voz
Auto da compadecida! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais um sacristão, um padre e um bispo, para exercício da moralidade.

Exemplo da utilização do prólogo

AUTO DA BARCA DO INFERNO
Gil Vicente


                 Auto da moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da sereníssima e muito 
católica rainha Lianor, nossa senhora, e representando por seu mandado ao poderoso príncipe e mui 
alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome. 
                 Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no 
ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em
um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o paraíso 
e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do 
inferno um arrais infernal e um companheiro.

                       O primeiro interlocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui
Comprido e ila cadeira de espaldas. É começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

Atos

Um ato significa um momento de uma obra e corresponde a tudo que acontece em um mesmo período, no mesmo dia ou ano.


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Imagem: Effie / GNU Free Documentation License.

Exemplos da utilização dos atos e cenas

ROMEU E JULIETA, ATO I, Cena V

O mesmo. Um salão em casa de Capuleto. Músicos esperam. 
Entram criados.

PRIMEIRO CRIADO – Onde está o Caçarola, que não vem ajudar a 
tirar a mesa? Aquele troca-pratos.
Olá, Raspa-pratos!

SEGUNDO CRIADO – Retira esse tambores, arrasta o parador. 
Cuidado com a baixela! Amigo, separa para mim um pedaço de massapão. E se me tens amizade, dize ao porteiro que deixe entrar Nell e Susana Grindstone. Antônio! Caçarola!

TERCEIRO CRIADO – Aqui, rapaz! Estamos prontos.

PRIMEIRO CRIADO – Estão vos chamando, estão vos procurando, reclamam vossa presença na sala grande.

TERCEIRO CRIADO – Não podemos estar aqui e lá ao mesmo tempo.

SEGUNDO CRIADO – Alegria, rapazes! Ficai lépidos pelo menos

Exemplos da utilização dos atos e cenas 

ATO II CENA II
Jardim de Capuleto. Entra Romeu.
ROMEU – Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo. (Julieta aparece na janela.) Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente?
Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! É o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala; contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto dos olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como se o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! Se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face!

A divisão da peça

No teatro dos séculos XV e XVI, a divisão da peça era feita em três atos.

  • Exposição – As personagens eram apresentadas e dadas informações.
  • Clímax – O desenvolvimento de um conflito.
  • Desenlace – A solução do conflito.


William Shakespeare

No século XVII, houve um aumento no número de atos, chegando geralmente a cinco atos, como ocorreu na maioria das peças criadas pelo grande e destacado teatrólogo William Shakespeare durante a época. Entre suas obras destaca-se o clássico “Romeu e Julieta”.

Imagem: Culturespaces / Les chorégies / Licença GNU de Documentação Livre.

Cenas

Os atos podem se dividir em cenas que são indicadas pelas entradas e saídas das personagens no palco. Atualmente,  os atores simplesmente dividem o texto em cenas e quase já não utilizam os atos.

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Epílogo

O epílogo é o final, o desfecho e fecha de forma lógica o drama desenvolvido nas cenas anteriores. O final precisa ser aceitável para o espectador e satisfazer de modo inteligente. O final feliz traz alívio e elimina as tensões do conflito, espalhando um sentimento de bem-estar na plateia, porém o final também pode terminar em tragédia.

A história da Compadecida termina aqui. Para encerrá-la, nada melhor do que o verso com que acaba um dos romances populares em que ela se baseou [...] E, se não há quem queira pagar, peço pelo menos uma recompensa que não custa nada e é sempre eficiente: seu aplauso. Pano.

Exemplo da utilização do epílogo

Junto ao corpo de Rosa, aparece a figura de Nossa Senhora, com os braços abertos como se estivesse a envolvê-la com sua infinita piedade.

CÍCERO – E viu-se um grande sinal no céu, uma mulher vestida de sol, que tinha a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre suas cabeças; e, estando prenhada, chamava com dores de parto, e sofria tormentos por parir. Pano.

Rubrica

Rubricas são indicações de cena, descrevem o que acontece em cena, se é dia ou noite, o local, etc. Normalmente ficam em linhas separadas, entre parênteses e escritas em itálico. As rubricas podem se subdividir em macrorrubrica e microrrubrica. A microrrubrica ainda se divide em rubrica objetiva e rubrica subjetiva.

Imagem: Dave Hitchborne / Creative Commons Attribution-Share Alike 2.0 Generic.

Imagem: Marcos Guerra / public domain. 

Macrorrubrica

É uma rubrica geral que interessa à peça, ou ao ato e às cenas. É também chamada de “Vista”, e é colocada no centro da página, no alto do texto respectivo, e escrita em itálico ou em maiúsculo e colocada entre parênteses.

Imagem: Wolfgang Glock / GNU Free Documentation License.

Exemplos da macrorrubrica

(Macrorrubrica) ÉPOCA: primeira metade do século XX; LUGAR DO DRAMA: Rio de Janeiro
________________________________________

PRIMEIRO ATO
(Macrorrubrica) Casa de família da classe média. Sala de estar com sofá, abajur, consoles e outros móveis e apetrechos próprios. Uma saída à esquerda dá para o corredor. À direita, a porta principal de entrada da casa. É noite.

Microrrubrica objetiva

A Microrrubrica objetiva refere-se à movimentação dos atores: Descreve os movimentos, gestos, posições ou indica o personagem que fala, o lugar, o momento, etc.

DONA MAGNÓLIA:
[Levanta-se do sofá, tem numa das mãos o livro que lia (Rubrica objetiva)]

ANINHA

[Mantém-se afastada da mãe, a poucos passos da porta. (Rubrica objetiva)]

Exemplos da microrrubrica objetiva

CENA I
(Dona Magnólia, Aninha)
[Dona Magnólia, recostada no sofá, lê um livro. (Rubrica objetiva)]

ANINHA
[Entra na sala (Rubrica objetiva)]
Olá, mãe.

Microrrubrica subjetiva

As microrrubricas subjetivas interessam principalmente aos atores: Descrevem os estados emocionais dos personagens e o tom dos diálogos  das falas. 

SINVAL

[Embaraçado: (Rubrica subjetiva)]


Dona Ana… Às quintas-feiras ele não vem direto para casa… Eu é que devo ir. Ele voltará muito tarde. 

 Exemplos da microrrubrica subjetiva

ANINHA
[Num ímpeto: (Rubrica subjetiva)]

Não, Sinval. Hoje eu vou buscar meu tio. Vou no meu carro. Tenho um assunto para conversar com ele na volta para casa. 

SINVAL
[Embaraçado: (Rubrica subjetiva)]

Dona Ana… Às quintas-feiras ele não vem direto para casa… Eu é que devo ir. Ele voltará muito tarde. 

Atividades Complementares

  1. Elaborem um texto dramático com a presença dos elementos vistos em aula.
  2. Escolha um texto teatral  popular, como “Auto da compadecida” ou “Auto da barca do inferno” e identifique os elementos presentes no texto que o caracterizam como texto dramático.

Recomendação de filme

O jovem astro do teatro londrino William Shakespeare (Joseph Fiennes) sofre de bloqueio criativo e não consegue escrever sua peça. Um dia, ele conhece Viola De Lesseps (Gwyneth Paltrow), uma jovem que sonha em atuar, algo proibitivo no final do século XVI. Para burlar o preconceito e ter sua chance, Viola se disfarça de homem e começa a ensaiar o texto de Will, que começou a fluir e passou a dar vazão ao amor entre os dois. O que eles não contavam era com o casamento arranjado pela família entre Viola e Lorde Wessex (Colin Firth).

Ate a próxima aula.

Não esqueçam de visitar o conteúdo GÊNEROS TEXTUAIS para ampliar o seu conhecimento.

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